Uma das principais contingências que, em termos energéticos, decorre do conflito em curso prende-se com o peso energético que a Rússia detém à escala europeia (e global).
I. Do conflito em curso à posição da Ucrânia no contexto energético europeu
Ao momento em que se escreve este breve texto, passam já sete dias do lamentável conflito armado que eclodiu em território ucraniano e que, sem particular exagero, integra já uma das páginas mais negras da primeira metade do Século XXI.
Dirigindo agora enfoque às suas consequências para o plano energético, importa começar por aludir ao posicionamento da Ucrânia no contexto energético europeu e, sobretudo, à sua relação com o sistema energético europeu de base continental, por ser aquele que mais diretamente se relaciona com o contexto nacional.
Historicamente, a Ucrânia teve um papel muito relevante no sistema energético europeu, dado que, pelo menos até à década de 1990, a maior parte do gás natural exportado pela Rússia para o território europeu continental cruzava território ucraniano. No entanto, ao longo das décadas subsequentes, a Rússia diversificou as respetivas rotas de exportação, através dos gasodutos Yamal-Europa (Bielorrússia e Polónia), BlueStream e TurkStream (Turquia) e Nordstream 1 (Alemanha), sendo sobejamente conhecida a mais recente situação em torno do Nordstream 2 (com o Governo Alemão a tomar medidas para interromper o processo de certificação do gasoduto, a que se seguiram consequências, de entre outros, para o operador de transporte).
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA), relativos ao intervalo de tempo entre 1998 e 2021, este conjunto de circunstâncias levou a uma redução do trânsito de gás natural por território ucraniano em cerca de 70%.
Atualmente, a Ucrânia é essencialmente um corredor para o gás natural importado pela Eslováquia e, bem assim, por Áustria e Itália, razão pela qual a Rede Europeia de…