Na semana em que um imigrante congolês é morto no Rio de Janeiro, vítima de espancamento, em frente ao quiosque de nome Tropicália, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) abre exposição com trabalhos de artistas brasileiros e africanos dedicados a discutir corpo, cultura e territorialidade. Entre o horror e a coincidência da produção artística, um oceano de indagações. A arte responde à selvageria?
Residente no Ceará desde 2015, o guineense Nixon António Guerra (@draw_day_for_you), 28 anos, expressa essa inquietação por meio de desenhos realistas. Nos traços em preto e branco, ele destaca o corpo negro, na tentativa de instigar nos outros a ideia de familiarização.
“Em todas as produções, me senti muito próximo de casa, no exato momento que estive desenhando as feições do rosto (nariz, boca, olhos)”, partilha o estudante de Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Ele é um dos artistas com trabalhos expostos na mostra “Corpo, território, continente”, em cartaz até 25 de fevereiro no equipamento cultural da UFC, e procura instigar nos apreciadores o senso de interpretação e abstração, uma vez que as imagens retratadas não têm coloração.
“Foi uma barbárie o que fizeram com nosso irmão Moïse. A diferença de raça, cor continua existindo, persistindo nas nossas sociedades, porque ela foi normalizada (é vista como normal). Acredito que há um trabalho conjunto a ser realizado por todos nós, para acabar/minimizar a indiferença e reviver a aceitação do outro”, entende o guineense sobre a relação entre o que aconteceu no Rio de Janeiro e o papel da própria arte nesse contexto.
“É nessa linha de pensamento que pretendo caminhar com minhas produções…