O ex-ministro de Relações Exteriores e embaixador Celso Amorim classificou como “esquizofrênica” a política desempenhada por membros do governo de Jair Bolsonaro (PL) em relação à Rússia, na eminência do conflito com a Ucrânia.
Para o embaixador, que foi chefe do Itamaraty nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Henrique Cardoso, os ministros do governo federal passaram sinais antagônicos ao mundo em um momento no qual era previsível o acirramento da crise entre os dois países.
“Eu acho que houve uma grande confusão. Eu diria até uma esquizofrenia, porque um dizia uma coisa e outro dizia o oposto”, destacou.
“Em um intervalo de dias, o Braga Netto (ministro da Defesa, Walter Braga Netto) dizia que a ida a Russia não atrapalhava o objetivo dele [Brasil] de entrar para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o Bolsonaro declarava solidariedade à Rússia. Isso na véspera de uma possível guerra”, exemplificou.
Bolsonaro x Mourão
Amorim ainda acrescentou a contradição entre a posição externada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, posteriormente repreendida por Bolsonaro e as notas emitidas pelo Itamaraty.
Mourão, em conversa com jornalistas havia afirmado que “o Brasil não concorda com a invasão do território ucraniano” e foi desautorizado em público pelo presidente. “Eu sou presidente do Brasil. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para alcançar a paz. Quem fala sobre esse assunto é Jair Bolsonaro, ninguém mais fala. Quem estiver falando está dando uma peruada”, disse Bolsonaro, na quinta.
“Assim a gente não sabe qual é a política brasileira. É uma grande confusão”, criticou Amorim em entrevista ao Metrópoles.
“Está certo que ninguém estava sabendo que ia acontecer do jeito que aconteceu [a invasão da Ucrânia]. Mas que era previsível um conflito, era”, ponderou o ex-ministro, que também disse ser contrário à estratégia declarada por Braga Netto de parceria…