9ª Cimeira das Américas: O Secretário de Estado norte-americano António Blinken pressionou para justificar a presença de Ariel Henry apesar dos numerosos crimes cometidos durante o seu mandato e do seu alegado envolvimento no assassinato do ex-Presidente Jovenel Moise.
Foi uma surpresa notória para o Secretário de Estado norte-americano, que foi obrigado a justificar a decisão da administração Biden de convidar o Primeiro-Ministro de facto do Haiti, Ariel Henry, quando os líderes democraticamente eleitos de outros países não foram convidados para o evento que tradicionalmente reúne todos os chefes de Estado e de governo do continente.
Quando solicitado por um jornalista para justificar o convite do Primeiro Ministro haitiano Ariel Henry, que não tem mandato legítimo e é suspeito de envolvimento em crimes graves, Antony Blinken foi bastante evasivo, dizendo que “Nós (a administração dos EUA) teremos muitas oportunidades, penso eu, nos próximos dias para falar sobre a participação na cimeira, quem está aqui e quem não está”.
Acrescentou que no Haiti “continuamos a trabalhar para uma transição que conduza a eleições adequadas que tenham o apoio de todo o povo haitiano” e “continuamos a trabalhar para enfrentar a violência dos bandos que assola o país e que está a causar danos terríveis ao povo haitiano”. Continuamos a trabalhar para tentar encontrar formas de apoiar o povo haitiano, que sofreu mais do que a sua quota-parte de problemas nos últimos anos, tanto naturais como provocados pelo homem”, respondeu Antony Blinken.
Assim, estamos a trabalhar de todas estas formas, inclusive com parceiros no nosso hemisfério, para tentar apoiar o povo haitiano. Mas queremos que eles tenham um governo verdadeiramente representativo, e isso vai acontecer no contexto das próximas eleições no país muito em breve”, acrescentou ele.
Deve dizer-se que a Secretária de Estado norte-americana não teve facilidade, com lembretes bastante directos do seu colega sobre a recusa do Primeiro-Ministro Henry em negociar com a sociedade civil, sublinhando mais uma vez que governa sem um mandato constitucional e está “implicado em numerosos crimes, incluindo o possível assassinato do ex-Presidente Jovenel Moise”.
O senhor mesmo disse no seu discurso de hoje e nas suas declarações anteriores que países como a Venezuela, Cuba, Nicarágua que mencionou, estão excluídos da Cimeira das Américas porque os considera antidemocráticos?
Mas como se pode usar isso como justificação quando se tem um chamado primeiro-ministro que não governa sob qualquer mandato democrático num país onde jornalistas e manifestantes são reprimidos?
Mais uma vez, nós, como muitos outros países, estamos determinados a chegar aos factos do que aconteceu no Haiti, incluindo o assassinato do antigo primeiro-ministro. Estamos determinados a encontrar os factos onde quer que nos levem e a quem quer que nos levem”, respondeu Antony Blinken, que aparentemente não esperava estas questões bastante incómodas.
Quanto à não-convite de Cuba, Venezuela e Nicarágua para a Cimeira das Américas em Los Angeles, Bilken joga a carta diplomática respondendo: “Posso também dizer-vos que Cuba, Venezuela e Nicarágua estão aqui. Já os vi. Já os conheci. Encontrei-me com líderes e activistas da sociedade civil de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Para sublinhar o ponto, o diplomata salientou que haverá pessoas de ONG, de diferentes partes destas sociedades, que francamente diz que serão mais representativas do povo cubano, nicaraguense e venezuelano do que os regimes que estão aqui neste momento, e que têm uma grande parte da cimeira. Já conheci alguns deles”, concluiu.
O Secretário de Estado norte-americano já diz acreditar que a cimeira será um sucesso, com a participação de mais de 60 delegações, mais de 23 chefes de governo ou chefes de estado, para não mencionar a participação de representantes da sociedade civil, da juventude, dos meios de comunicação social, da comunidade empresarial que se reunirão aqui em Los Angeles nos próximos três dias, afirmou.
Note-se que o presidente do México, um vizinho dos Estados Unidos, Andrés Manuel López Obrador, decidiu na passada segunda-feira boicotar a Cimeira das Américas após a exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua.
“Não vou à cimeira porque nem todos os países das Américas são convidados. Acredito na necessidade de mudar a política que tem sido imposta há séculos: exclusão”, disse ele numa conferência de imprensa.