Programa de diversificação do cultivo de tabaco que beneficia agricultores do setor foi alterado no governo Bolsonaro. Detalhe: o programa era referência internacional
Por André Picolotto, Clarissa Levy, Manoela Bonaldo, Agência Pública
A casa em que vive a agricultora Mara*, de 57 anos, é um rancho de madeira, chão batido, tem um cômodo só e foi construída por suas próprias mãos. Fica no alto de uma colina, no terreno de sua família, em Camaquã, o terceiro município do Rio Grande do Sul que mais produziu tabaco em 2020. “Eu tenho vergonha, sabe?”, lamenta Mara. “A casa é simples, mas é preciso que vocês vejam como as coisas são”, diz a agricultora, que sobrevive com cerca de R$650 por mês. Mara planta tabaco há 20 anos e se aposentou com um salário- mínimo, mas ainda precisa reservar parte do dinheiro que recebe todo mês para pagar dívidas com fumageiras. “Essa é a riqueza que o fumo me trouxe”, diz.
Quando ela começou com o cultivo, a atividade era propagandeada como vantajosa, tanto pelo valor de mercado das folhas de tabaco quanto pela comodidade oferecida pelo sistema integrado de produção. Para começar o plantio, a empresa vendia as sementes, os agrotóxicos, os equipamentos de proteção. Além disso, no fim da safra ainda garantia a compra do tabaco e vinha buscá-lo na propriedade. Essa comodidade é um dos grandes atrativos do cultivo de fumo no país até hoje.
“A verdade é que eu já entrei fazendo dívida”, conta Mara. “Os instrutores, responsáveis por levar as folhas de tabaco da lavoura até a empresa, prometiam um preço quando vinham aqui, mas na fumageira o tabaco era classificado com uma qualidade inferior”, explica. Como todos os custos da produção eram descontados do valor da venda do tabaco, no final da safra o dinheiro que sobrava não era muito. “Eu fui acumulando muita dívida, foi uma bola de neve, e hoje pago um preço alto pela minha…